O período do Impressionismo, que se originou na França em meados do século 19 e lançou grandes nomes da arte mundial, como Édouard Manet, Claude Monet, Berthe Morisot e Pierre-Auguste Renoir, tem reconhecido como seu marco final o ano de 1886, data em que houve a última exposição coletiva relacionada aos artistas do período. Portanto, essa mesma data marca o início do Pós Impressionismo, período que iremos discorrer a seguir.
O que foi o Pós-Impressionismo?
O Pós-Impressionismo não foi um movimento artístico ou um estilo de arte, mas sim um período de tempo, que tem início no ano de 1886 e avança até a primeira década do século 20, ou seja, até os anos de 1910. Embora tenha sido um período considerado curto, foi também bastante intenso, de diversos acontecimentos, especialmente em Paris, onde estava concentrada a elite intelectual e artística da época.
Acontecimentos importantes
Torre Eiffel
Em 1886 foi organizado um concurso na capital francesa para a construção de um monumento em homenagem ao centenário da Revolução Francesa (1789). O projeto vencedor foi o do engenheiro Gustave Eiffel, dando origem à torre mais famosa do mundo. A construção teve que ser feita em um tempo muito rápido, visto que a torre deveria estar pronta para a Exposição Universal de 1889.
Exposição Universal de 1889
Embora não tenha sido a primeira exposição universal, ficou marcada devido à celebração dos 100 anos da Revolução Francesa, e por ter o campo de marte e a imponente Torre Eiffel como palco. Com mais de 30 países participantes – incluindo o Brasil – um evento dessa magnitude possibilitou o contato com diferentes culturas. Entre outras coisas, “a exposição permitiu a descoberta do mundo exótico do Oriente, com seus templos indianos e suas danças javanesas (…)” (BRODSKAIA, 2017, p.8).
O cenário artístico do Pós-Impressionismo
Assim como no Impressionismo, os artistas do pós-impressionismo também encontravam dificuldades para serem aceitos no Salão Oficial, onde eram considerados pelo júri como pintores sem profissionalismo, e causavam sobressalto no público, por ter um estilo muito ousado para a época, ou utilizar cores consideradas muito intensas. A solução adotada foi o Salão dos Artistas Independentes, exposição inaugurada no ano de 1884, e que não tinha júri nem premiação, ou seja, possibilitava aos pintores uma maior liberdade, tendo aberto espaços para diversos novos artistas. O Salon d’Automme, criado em 1903, também foi importante neste cenário.
A formação em escolas de pintura deixou de ser um aspecto essencial para os artistas; Vincent van Gogh e Paul Gauguin foram pintores persistentes, autodidatas (…) (BRODSKAIA, 2017, p.11). Paul Cézanne seguiu por um caminho próprio de pintura, assim como Henri de Toulouse-Lautrec e Georges Seurat, com quem surgiu o termo “pontilhismo”‘, muito bem retratado em “Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte, 1884-86”.
Quem foram os principais artistas do Pós-Impressionismo?
Como já citado, foi um período de grande efervescência cultura, portanto diversos artistas ganharam destaque. Abaixo, citaremos três dos principais artistas do Pós-Impressionismo.
Paul Cézanne
O artista francês nasceu em 19 de Janeiro de 1839, em Aix-en-Provence, cidade onde seu pai havia fundado um banco. Embora seu pai tivesse planos para que o filho assumisse os negócios da família, teve que abrir mão, ao perceber a insistência do herdeiro em seguir a carreira artística. Paul Cézanne, que já havia frequentado uma escola livre de desenho a partir de 1858, abandona o curso de direito e se muda para Paris, em 1861. Apesar de ser contemporâneo e amigo de artistas impressionistas, Cézanne é considero um pintor pós-impressionista. A aspiração dos impressionistas de representar a natureza a partir da sensação não o satisfazia. “É preciso pensar”, dizia ele. “O olho não é suficiente, pensar também é necessário”. Enquanto artistas como Edouard Monet enfatizavam o instante, a efemeridade do tempo revelada pela passagem das horas, Cézanne preocupava-se com aquilo que não se alterava na natureza.
Na década de 1860, Cézanne faz uma série de retratos, pintados ao ar livre na propriedade da família em Aix. Seu pai e seu amigo Émile Zola, que viria a se tornar um grande escritor, foram alguns dos retratados. Ao final da mesma década, o pintor conhece Marie-Hortense, com quem passa a se relacionar escondido de seu pai, pois temia perder a mesada que recebia. Em 1872, nasce seu filho, que recebe o mesmo nome do pai. Apenas em 1886 os dois decidem se casar oficialmente, mesmo ano em que o pai de Cézanne vem a falecer. A partir de então, o pintor – que antes trafegava por Paris, L’Estaque e Aix-de-Provence – passa a ficar mais tempo em sua terra natal. Montanha de Santa Vitória com o Grande Pinheiro (1886-87) é uma tela do artista pintada nesta época.
Em 1895, o marchand Ambroise Vollard decide fazer uma exposição individual de Cézanne na capital francesa; o resultado foi um espanto negativo por parte da crítica; diferente aconteceu na exposição póstuma do Salon d’Automme de 1907, onde suas pinturas tiveram boa aceitação pela crítica. “O sistema preciso e bem organizado no qual Cézanne baseava suas pinturas chocava as pessoas, após a aparente desorganização do Impressionismo. E foi justamente esse método que permitiu à geração seguinte aprender bastante com as pinturas de Cézanne (…) ” (BRODSKAIA, 2017, p.28).
Em 15 de Outubro de 1906, Cézanne saiu cedo para pintar o que mais gostava: a montanha de Santa Vitória. Mesmo após cair uma enorme tempestade, o artista continuou pintando. Desmaiou no retorno para sua residência, e veio a adoecer. Não conseguiu trabalhar nos dias seguintes, e, infelizmente, veio a falecer em 22 de outubro, vítima de uma pneumonia, sem poder ver sua triunfal exposição no Salon d’Automme.
Vincent van Gogh
O artista nasceu no dia 30 de março de 1853 em Groot Zundert, uma aldeia holandesa. Sua família tinha uma relação próxima com o mundo da arte. Aos 16 anos, Vincent vai trabalhar como vendedor de quadros em Haia, na Galeria Internacional de Arte Goupil, onde seu tio Clent era sócio. Posteriormente, aos 20 anos, foi transferido para a filial de Londres, e depois para Paris. Van Gogh se mudou muito de cidade durante sua vida, talvez por influência de seu pai, um pastor calvinista que também se mudava bastante de cidade por questões de seu ofício. Depois de Paris, retorna à capital inglesa, de onde segue para Roterdã – Holanda, Bruxelas, e novamente para Haia, onde passa a ser orientado por Anton Mauve, artista da Escola de Haia casado com uma prima sua.
Em 1883, Vincent se muda para Nuenen – Holanda, onde seus pais estavam morando. Dois anos depois, seu pai vem a falecer. Neste mesmo ano, 1885, o pintor finaliza o que é considerada sua primeira obra-prima, a tela “Os Comedores de Batata”. A pintura foi enviada para seu irmão, Theo, que atuava com marchand em Paris. Em carta, Vincent se diz orgulhoso por ter conseguido mostrar exatamente o que queria: pessoas simples, trabalhadores, comendo batatas com as mesmas mãos que haviam cavado a terra.
Na sequência, o artista passa um breve período na Antuérpia – Bélgica, de onde segue para Paris, ao encontro do irmão. Na capital francesa, tem contato com artistas como Émile Bernard, Henri de Toulouse-Lautrec e Paul Gauguin. Vê ali pela primeira vez algumas pinturas de Paul Cézanne, e também entra em contato com a arte japonesa. O agito da cidade não fazia bem à sua saúde, que era um pouco frágil, e em 1888 van Gogh se muda para a cidade de Arles, no sul da França. Foi ali que se encontrou com sua pintura, com suas cores. Pintou os campos dourados, que simbolizavam as inestimáveis riquezas do mundo. Desenhou e pintou, incansavelmente, campos floridos, carroças de ciganos, jardins, bosques de oliveiras, vinhedos, ruas e habitantes de Arles. Aluga uma pequena casa para trabalhar, conhecida como “Casa Amarela”, tão retratada em suas pinturas.
No mesmo ano, Paul Gauguin se muda para a casa amarela, onde fica por dois meses. O silêncio e a tranquilidade de Arles não foram suficientes para freiar as calorosas discussões e divergências que os artistas tinham entre eles. Foi após uma dessas conversas que ocorre o primeiro surto de van Gogh, que faz com que o pintor corte parte de sua orelha e leve até uma prostituta de um bordel local. Gauguin vê o sangue, entra em pânico, e entra em contato com Theo, solicitando que o mesmo vá para o sul da França. Após esse episódio, retorna para Paris. Gauguin nunca mais se encontraria com Vincent.
Vincent é internado num hospital local. Após ter alta, as alucinações passaram a acompanhá-lo. Moradores da cidade prestam queixa sob seu comportamento ao prefeito. É internado mais algumas vezes, e concorda em se tratar na Casa de Saúde Saint-Paul de Mausole, em Saint-Remy-de-Provence. Em 1 ano, pinta cerca de 150 telas. No ano de 1890, parte para Auvers-sur-Oise, nor arredores de Paris, para ser tratado pelo doutor Gachet, médico que seu irmão havia conhecido e indicado. Vai aos campos todos os dias, como quem ia ao trabalho. Foi quando a tela “Campo de Trigo com Corvos” foi pintada. Em 27 de julho, dá um tiro no próprio peito com um revólver, após mais um episódio de alucinação. Morre dois dias depois, e é enterrado no cemitério local.
Paul Gauguin
Nascido em 7 de junho de 1848 em Paris, já no ano seguinte Gauguin segue com sua família para Lima, no Peru, onde vivia a família de sua mãe, Aline Chazal. Seu pai morre durante a viagem. Juntamente com a mãe e irmã, vive na cidade até o ano de 1855, quando retorna à França. Aos 16 anos embarca num navio mercante, viajando o mundo inteiro. No mesmo ano, sua mãe vem a falecer, tornando o fotógrafo e colecionador Gustave Arosa, velho amigo da família, seu tutor.
Através de seus contatos, Arosa consegue um trabalho para Gauguin no mercado financeiro. Em 1873, o artista se casa com a dinamarquesa Mette Gad. Nessa época, passa a pintar no seu tempo livre. No ano de 1883, aos 35 anos, deixa seu emprego e passa a se dedicar exclusivamente à arte. Naquele tempo, já vinha ganhando prestígio, e era próximo de artistas como Édouard Manet e Camille Pissarro.
Mesmo com o prestígio, encontrava dificuldade em sustentar sua família, que naquele momento já somava 5 filhos. Com a família na Dinamarca, Gauguin vai em busca de sua arte; volta à Paris, depois segue para a Bretanha e até mesmo para o Panamá, onde acabou trabalhando como operário na construção do canal do Panamá devido a dificuldades financeiras. Em 1888, após diversos convites de van Gogh, Gauguin segue para o sul da França encontrar o amigo holandês. Diferentemente do que aconteceu com Vincent, a pequena cidade de Arles não incutiu o mesmo efeito sob o artista francês. Gauguin não se adaptou à cidade nem à van Gogh. Após uma relação conturbada, que resultou no primeiro surto de van Gogh, Gauguin retorna para Paris após apenas dois meses.
Em 1891, segue para o Taiti, financiado pelo Ministério da Educação e pela Academia de Belas-Artes. Fica seduzido pela natureza local, por suas noites e por seus habitantes. Pouco a pouco, acostuma-se com o ambiente e aproxima-se de sua ideia de viver do êxtase, da tranquilidade e da arte. Mas a realidade não foi bem como imaginara. Em 1896, em sua segunda passagem pelo Taiti e já casado com Pahura, sua segunda esposa, o casal tem uma filha que vive apenas 10 dias. No ano seguinte, recebe a notícia que sua filha Aline havia falecido, aos 20 anos de idade. Foi nessa época que pintou a tela “De onde Viemos? Quem somos? Para onde vamos?”
Passando por dificuldades financeiras e de saúde, não termina a tempo as obras que iria enviar para a Exposição Universal de 1900. Em 1901, muda-se com Pahura para a ilha de Hiva Oa, também na Polinésia Francesa, onde a vida continuou sendo muito difícil. Apesar de tudo, Gauguin ainda produziu diversas pinturas em seus últimos anos de vida. O artista veio a falecer em 1903, sendo enterrado em uma colina próxima.