Grupo Santa Helena

Alguns membros integrantes do Grupo Santa Helena

Você que se interessa um pouco pelo mundo da arte, principalmente por aquela feita aqui no Brasil, já deve ter ouvido falar sobre o Grupo Santa Helena. Trata-se de um grupo formado por importantes artistas, em meados da década de 1930, que se uniram em um prédio histórico na praça da Sé, em São Paulo, para dividir salas de trabalho e compartilhar conhecimento uns com os outros.

Como surgiu o Grupo Santa Helena?

O primeiro artista a montar ateliê no palacete foi Francisco Rebolo (1902-1980), no ano de 1934. Rebolo, assim como os demais artistas que se juntariam ao grupo, tinha origem humilde; por isso, possuía outro ofício além de pintar: no caso, era decorador-pintor de paredes. Na sequência, junta-se a ele o artista Mário Zanini, que por sua vez também era decorador-pintor de paredes. Ambos dividem a sala de número 231 no Palacete Santa Helena durante um tempo. Posteriormente, Zanini arrenda a de número 233. Outros artistas importantes vão se juntando à dupla, sendo os mais conhecidos os artistas Aldo Bonadei, Fulvio Pennacchi, Clóvis Graciano e Alfredo Volpi.

Por que o Grupo Santa Helena leva esse nome?

O nome se dá devido ao local que os artistas escolheram para se instalar: o Palacete Santa Helena, na Praça da Sé, na capital paulista. O edifício foi demolido na década de 70, por motivos de construção da estação Sé de metrô. Abaixo você pode conferir uma foto do belo palacete que foi reduto de diversos importantes artistas brasileiros:

 

Palacete de Santa Helena. Década de 1930. Praça da Sé - São Paulo/SP.
Palacete de Santa Helena. Década de 1930. Praça da Sé – São Paulo/SP

 

Quem fazia parte do Grupo Santa Helena?

Outros artistas chegara a fazer parte do grupo, mas abaixo estão listados aqueles que são considerados como os mais importantes.

 

Francisco Rebolo

Filho de imigrantes espanhóis, antes de se tornar um renomado artista, Francisco Rebolo foi jogador de futebol, atuando pelo Corinthians e pelo time do Ypiranga, ambos clubes da cidade de São Paulo, na década de 1920. Curiosamente, foi ele quem desenhou o símbolo do Corinthians, que até hoje, quase 100 anos depois, ainda estampa o uniforme de um dos times de futebol mais tradicionais do país. Nos anos 30, passou a se dedicar à arte, inicialmente como pintor e decorador de residências. É considerado o fundador do Grupo Santa Helena, por ter sido o primeiro a alugar uma sala do Palacete Santa Helena, na praça da Sé, e convidado amigos e artistas que se tornariam grandes nomes do cenário artístico brasileiro.

 

Símbolo do Corinthians, criado pelo Artista Francisco Rebolo
Símbolo do Corinthians, criado pelo Artista Francisco Rebolo

 

Francisco Rebolo. Futebol. Óleo sobre Tela. 86x36cm. 1936
Francisco Rebolo. Futebol. Óleo sobre Tela. 86x36cm. 1936

 

Mario Zanini

Mario Zanini (1907-1971) era filho de imigrantes italianos, que chegaram no Brasil no século 19. Criado no bairro operário do Cambuci, acaba tendo boa parte de sua obra dedicada à vida do subúrbio paulistano. Inicia ainda adolescente os estudos de pintura. Na década de 20, trabalha como letrista na Companhia Antarctica Paulista e se matricula no curso de desenho e artes do Liceu Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp). Na década seguinte, começa a trabalhar com pintura e decoração com o amigo Francisco Rebolo, quando formam o Grupo Santa Helena. Torna-se um artista consagrado nas décadas seguintes, fazendo exposições individuais e realizando estudos na Europa.

 

Mario Zanini. Lerici. Óleo sobre tela. 46x61cm. 1950
Mario Zanini. Lerici. Óleo sobre tela. 46x61cm. 1950

 

Barcos carregando lenha. Óleo sobre papelão. 50x40cm. 1936
Barcos carregando lenha. Óleo sobre papelão. 50x40cm. 1936

 

Aldo Bonadei

Aldo Cláudio Felipe Bonadei (1906-1974). Descendente de uma família de imigrantes italianos, o artista autodidata começa a pintar ainda na adolescência. Aos 17 anos, passa a ser aluno de Pedro Alexandrino – consagrado artista nascido no século XIX. Em 1930, vai estudar na Itália, onde toma aulas na Academia de Belas Artes de Florença. De volta ao Brasil, adere ao Grupo Santa Helena, em meados da década de 1930. Pintor, designer, gravador, figurinista e professor, Bonadei é considerado o mais erudito dentre os participantes do grupo.

 

Aldo Bonadei. Casario. Óleo sobre tela. 60x49cm. 1972
Aldo Bonadei. Casario. Óleo sobre tela. 60x49cm. 1972

 

Aldo Bonadei. Auto-retrato. Óleo sobre tela. 50x65cm. 1945
Aldo Bonadei. Auto-retrato. Óleo sobre tela. 50x65cm. 1945

 

Fulvio Pennacchi

Nascido na Itália no ano de 1905, na pequena Vila Collemandina, Pennacchi inicia seus estudos em artes no ano de 1924, e muda-se para o Brasil em 1929. Antes de compor o Grupo Santa Helena, o artista realiza diversas atividades diferentes, dentro e fora do ramo artístico, tendo trabalhado como açougueiro e auxiliado artistas na execução de monumentos funerários. Temas religiosos, paisagens e o homem do campo são temas recorrentes em sua obra.

 

Fulvio Pennacchi. O Papiro. Pintura mural. 400x250m. 1938
Fulvio Pennacchi. O Papiro. Pintura mural. 400x250m. 1938

 

Fulvio Pennacchi. O circo. Óleo sobre madeira. 70x50cm. 1942
Fulvio Pennacchi. O circo. Óleo sobre madeira. 70x50cm. 1942

 

Clóvis Graciano

Clóvis Graciano (1907-1988) nasceu na cidade de Araras, interior do estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, fica órfão ainda na adolescência, passando por momentos de grandes dificuldades. Começa a trabalhar na estrada de ferro, pintando postes e tabuletas. Em 1934, muda-se para São Paulo, quando passa a ter aulas com Waldemar da Costa. Em 1937, integra o Grupo Santa Helena. Clóvis Graciano ganhou prêmios no decorrer de sua carreira, realizou exposições, estudou na Europa, foi sócio fundador do MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

Clóvis Graciano. Borracha. Óleo sobre tela. 298x183cm. 1970
Clóvis Graciano. Borracha. Óleo sobre tela. 298x183cm. 1970

 

Alfredo Volpi

Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, 1988) veio da Itália quando ainda era criança. O Cambuci, bairro operário da cidade de São Paulo, foi o local onde o artista cresceu com sua família. De origem humilde, Volpi trabalha como marceneiro, entalhador e encadernador na sua juventude. Posteriormente, atua no ramo da construção civil. Na década de 30, junta-se ao Grupo Santa Helena. Seu interesse pelo popular ganha força a partir da década de 1940, quando passou a realizar retratos religiosos, representações de festejos populares — incluindo suas famosas bandeirinhas — e de fachadas de arquitetura vernacular e colonial brasileira.

Volpi é tido como o artista do Grupo Santa Helena que mais obteve sucesso em sua trajetória profissional. O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – reuniu 96 obras do artistas na exposição “Volpi Popular”, que pode ser visitada entre os dias 25/02 e 5/6/2022.

 

Alfredo Volpi. Bandeirinhas com mastro. Têmpera sobre tela. 72x52cm. 1960
Alfredo Volpi. Bandeirinhas com mastro. Têmpera sobre tela. 72x52cm. 1960

 

Alfredo Volpi. Sem título. Têmpera sobre tela. 55x73cm. 1960
Alfredo Volpi. Sem título. Têmpera sobre tela. 55x73cm. 1960

 

O que os integrantes do Grupo Santa Helena tinham em comum?

Os integrantes do grupo eram todos de origem humilde. Filhos de imigrantes, italianos em sua maioria, todos eles exerciam atividades proletárias, ganhando a vida como artesãos ou pintores-decoradores. A pintura de cavalete era realizada nos momentos de folga, e não garantia a sobrevivência dos artistas naquele momento. Por este motivo, Mário de Andrade nomeou o grupo de “Artistas Proletários”.

 

Qual foi a importância do Grupo Santa Helena?

O universo industrial paulista ficou eternamente eternizado pelo grupo, por meio da representação das paisagens, e também na identidade que se construiu ao redor dos “pintores operários”. Além de serem observadores e retratistas deste universo, foram também membros integrantes desta realidade.

“No caminho de bonde entre suas casas e o Palacete Santa Helena (…), no passeio até os arredores da cidade, nas redondezas dos bairros onde moravam, ou ainda no trajeto que percorriam a pé entre um Café e uma exposição de arte. Lá estavam as paisagens industriais com as quais se ocuparam os pintores do Grupo Santa Helena. As vistas dos ateliês alugados no centro de São Paulo também mostram a proximidade da indústria, na figura de uma chaminé ou de um edifício fabril retratado na paisagem em que o olhar alcança, a partir das janelas do Palacete Santa Helena”. (FREITAS, 2011, p.172). Os membros do Grupo Santa Helena tiveram maior convivência nas décadas de 30 e 40, mas as paisagens em que a indústria está representada avançam nas obras de certos artistas do Grupo até a década de 1970.

Os artistas do que viria a ser o Grupo Santa Helena não tinha nenhuma pretensão – seja de forma um grupo, seja de criar uma corrente artística. Uniram-se simplesmente pelos interesses em comum, e para poder dividir espaços para realizar seus trabalhos corriqueiros e suas artes. O grupo marcou e eternizou, através de sua arte, cenas e paisagens urbanas e suburbanas de uma São Paulo que não mais existe.

 

Conheça algumas obras do acervo da Galeria Deledi:

Lucas Pennacchi - Paisagem
Lucas Pennacchi – Paisagem
Edgard Oehlmeyer - Paraty
Edgard Oehlmeyer – Paraty

 

Fontes:

GRUPO Santa Helena. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo520054/grupo-santa-helena. Acesso em: 04 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

MÁRIO Zanini. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8627/mario-zanini. Acesso em: 04 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

http://institutorebolo.org.br/ acesso em 04 de maio 2022.

BONADEI. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9497/bonadei. Acesso em: 04 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

FULVIO Pennacchi. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18765/fulvio-pennacchi. Acesso em: 04 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

CLÓVIS Graciano. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5507/clovis-graciano. Acesso em: 04 de maio de 2022. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

coladaweb.com/biografias/clovis-graciano/ acesso em 04 de maio de 2022.

https://masp.org.br/exposicoes/volpi-popular/ acesso em 04 de maio de 2022.

https://www.ifch.unicamp.br/eha/chaa/artigos/dissertacao-patriciafreitas.pdf / acesso em 18 de maio de 2022.

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