Quando pensamos em Renascimento, e o próprio nome já indica isso, estamos falando de algo que está renascendo. Neste período da história, muita coisa referente ao mundo antigo, especialmente à Grécia Antiga, foi trazida à tona novamente, como a filosofia e a mitologia grega. É um período de transição entre a Idade Média (séculos X a XV) e a Idade Moderna (séculos XV a XVIII).
O Renascimento foi um fenômeno global, mas que se intensifica bastante na Itália, especialmente em Florença, Gênova, Veneza e Roma. Grandes nomes como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Sandro Boticcelli e Rafael são frutos desta época.
O Pré-Renascimento
Existe um período chamado de pré renascimento, que compreende o século 14, ou seja, entre os anos de 1300 e 1400. A seguir, podemos observar uma obra realizada pelo artista italiano Giotto de Bondone, em 1304, chamada “A Natividade”. Giotto é considerado o principal artista do período, e esta obra é muito importante ao passo que é pintada após um longo período de Idade Média. Nela, podemos observar aspectos de tridimensionalidade, algo que seria melhor apurado durante o século seguinte.
Quatrocento
Quatrocentos, em italiano. Esse nome se refere ao século 15, ou aos anos de 1400, período de grande produção artística. O início do Renascimento se dá em 1401, quando é organizado um concurso no Batistério de San Giovanni, em Florença, para escolher quem faria os relevos de uma das portas. Filippo Brunelleschi (1377-1446) fica em segundo, e portanto não é selecionado para fazer os desenhos; porém, utilizando-se de seus conhecimentos arquitetônicos, ele cria a cúpula do batistério, solucionando este que era um problema até então, pois nenhum projeto havia sido capaz de mostrar como seria feita essa cobertura. Brunelleschi era um grande estudioso, e além de ter contribuído para a cúpula do batistério, que se tornou um grande monumento do Renascimento, ele criou o conceito de perspectiva linear, utilizando um ponto de fuga para representar objetos tridimensionais em superfícies planas. A perspectiva linear seria posteriormente utilizada por grandes mestres do Renascimento.
Mitologia
Como dito anteriormente, o período do Renascimento significou o Renascimento do mundo antigo, especialmente da Grécia Antiga; sendo assim, alguns temas da mitologia voltaram. Podemos ver isso em “Nascimento da Vênus”, de Sandro Boticelli (1445 – 1510). A mitologia fala que Cronos, filho de Urano (céu) e de Gaia (terra), se revolta contra seu pai, o mata, arranca seus testículos e os joga ao mar. Da espuma formada no mar a partir dos testículos de Urano é que nasce Vênus (ou Afrodite, para os gregos). Podemos observar também que Zéfiro, Deus do vento, está levando-a para Citera, ilha onde ela foi criada por deusas chamada de Horas. Nota-se que na pintura existe um sistema de equilíbrio, com a Deusa Vênus centralizada, sendo esta mais uma característica do Renascimento. No decorrer do texto, falaremos mais sobre isso.
Filosofia
É tempo também de se discutir filosofia grega. A academia de Platão foi refundada em Florença. No Neoplatonismo era discutido que, por meio do visual, através daquilo que os sentidos capturavam, poderíamos chegar também ao campo das ideias.
O artista Rafael foi outro grande nome do período. A Escola de Atenas é uma obra pintada na parede na sala da assinatura, no Vaticano, a convite do papa Julio II, o mesmo papa que convidou Michelangelo a pintar o teto da capela sistina.
No centro da composição, estão Platão e Aristóteles. Platão apontando para cima e segurando o Timeu, um dos grandes diálogos de Sócrates. Aristóteles com as mãos paralelas à terra, segurando a Ética a Nicômaco. Abaixo e na parte central, o homem com a cabeça apoiada às mãos, é Heráclito, um filósofo pré-socrático, a quem é atribuída a frase “um homem não passa duas vezes pelo mesmo rio”. De azul, sentado nas escadas, está representado Diógenes, também um filósofo pré-socrático, que pregava uma vida sem apego a bens materiais. O próprio Sócrates é retratado, um pouco atrás de Heráclito, em pé, vestindo uma roupa marrom e dialogando com seus companheiros.
Na obra, notamos certa linearidade, se observarmos em cima da cabeça dos homens que estão em pé. A pintura traz harmonia e simetria, e a perspectiva linear, de Filipo Brunelleschi, é empregada.
Nota: no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – há uma obra do pintor Rafael no acervo permanente, sendo esta a única obra do artista que pode ser encontrada no hemisfério sul. Uma verdadeira relíquia.
Contraponto
David, feito por Michelangelo (1501-1504), é uma das obras mais importantes do Renascimento. Escultura feita em mármore, retrata o personagem que derrotou Golias, utilizando de perspicácia e inteligência, uma vez que era menor e menos forte que o adversário. Retratado como se fosse um Deus Grego, podemos observar em David contrapontos, equilíbrios. O que está relaxado de um lado, está mais tenso do outro. Isso traz uma ideia de harmonia, e tudo isso remete ao período clássico da arte da Grécia Antiga.
Para efeitos de comparação, podemos observar a grande semelhança entre David, de Michelangelo, e Hermes, escultura datada de 400 a.C., que pertence ao acervo do Museu Arqueológico de Atenas. O corpo era central nas obras de Michelangelo, assim como no período clássico da arte da Grécia Antiga. A mesma ideia de equilíbrio, de contraponto e de harmonia estão presentes em ambas as obras.
Leonardo da Vinci
Da Vinci também fez parte deste período. Em “A Última Ceia” (1495–1498), conseguimos ver novamente o uso da perspectiva linear, de Filippo Brunelleschi.
Entre outras coisas, Da Vinci inventou a técnica do sfumato, que está presente em sua obra mais famosa, a Monalisa. A técnica consiste em deixar a pintura com um aspecto de “esfumaçado”, gerando suaves gradientes entre as tonalidades. Grande cientista e estudioso que era, ele estava tentando imitar a ótica pela qual enxergamos o mundo.
O fim do Renascimento
O ano de 1527 é considerado como o final do período do Renascimento, após a ocorrência do Saque de Roma, quando as tropas de Carlos V, imperador do Império Romano-Germânico, invadiram a cidade. Após esta data, dá-se início um período artístico chamado de Maneirismo, que é conversa para outro dia.
* Créditos deste texto devem ser dados ao Professor Felipe Martinez, professor de História da Arte que ministra cursos sobre o tema na Casa do Saber, de onde foi retirado grande parte do conteúdo aqui presente.